Jorge Luis Borges era mesmo diabólico. Um provável devorador de enciclopédias, jamais escrevia vastos romances, mas apenas contos, poemas e notas. Fascinado por labirintos, mestre da ironia, da metáfora e da análise matemática e lógica das idéias, abordava sempre temáticas ligadas à filosofia, à teologia, à metafísica e à mitologia. Compor vastos livros, para ele, era um ‘desvario trabalhoso e empobrecedor – espraiar em quinhentas páginas uma idéia cuja perfeita exposição oral cabe em poucos minutos’. Ele preferia escrever notas sobre livros imaginários: propunha resumos, comentários de livros por ele diabolicamente inventados.
Borges admirava Schopenhauer! e se bem me lembro, ofendeu Nietzsche, duvidando seriamente da inteligência do pensador alemão que imaginou ‘o eterno retorno’ – uma idéia, convenhamos, cuja validade, ou não, é absolutamente irrelevante. Eu entendo que Nietzsche quis destruir a metafísica, enquanto Borges a destruiu de fato, lançando-a nas ruínas circulares e fazendo arte dos escombros. ‘A metafísica é um ramo da literatura fantástica. Um sistema não é outra coisa além da subordinação de todos os aspectos do universo a qualquer um deles.’ Isso despedaça todas as filosofias.
Questionou a moral do próprio Deus quando pensou sobre a ‘Duração do Inferno’ – um castigo eterno por causa de delitos temporais não seria justo! além do mais, eternizar o inferno seria eternizar o mal. Borges, Borges! Resumir em tão poucas palavras o tempo, a eternidade e o infinito. Enquanto Nietzsche se perguntava ‘se existisse um Deus, como eu suportaria não sê-lo?’, Borges dizia que nós, de certo modo, o somos: ‘somos todos fragmentos de um Deus que, ávido de não ser, se autodestruiu’. Borges era mais sutil do que Nietzsche…
Por Fabricio Kc
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