Por Estadão,
Para se
encontrar com Clint Eastwood, o repórter transpõe os portões da Warner. O
estúdio localiza-se em Culver City e a primeira surpresa é que, lá
fora, com exceção de um pôster gigantesco do up coming Man of Steel
(Superman), todas as imagens nas paredes são de séries de TV. A
entrevista não se realiza no bangalô da Malpaso, a empresa produtora de
Eastwood, abrigada na Warner. O encontro ocorre num estúdio no qual
foram montadas duas mesas. Cada uma delas reunirá cinco jornalistas
vindos de diferentes partes do mundo - e o entrevistado. Clint chega.
Alto, magro e rijo. Elegante. Fala manso. Responde sobre tudo - o novo
filme, no qual é só ator (Curvas da Vida estreia dia 23), o apoio a Mitt
Romney (ele ainda não fez encenação sobre a cadeira vazia de Barack
Obama) e também Sergio Leone e Don Siegel.
O senhor havia anunciado que iria se concentrar na direção e não atuaria mais. O que o fez aceitar Curvas da Vida?
O senhor havia anunciado que iria se concentrar na direção e não atuaria mais. O que o fez aceitar Curvas da Vida?
Clint Eastwood - Robert Lorenz tem trabalhado comigo nos últimos anos como produtor associado. Há tempos ele sonhava com sua estreia na direção. Surgiu essa história sobre o velho olheiro de um time de beisebol. Ajudei-o a formatar o projeto, acompanhei a escritura do roteiro. O personagem ficou muito próximo de mim. Robert passou a vê-lo como uma extensão de mim e eu próprio me sentia confortável nos seus tênis. Foi assim que voltei a atuar.
É um longo caminho desde que o senhor começou, aqui mesmo na Warner, nos anos 1950. Dois diretores foram decisivos na sua evolução, Don Siegel e Sergio Leone. Foram seus mestres?
Clint Eastwood - Não
diria que tenham sido só meus mestres. Foram mestres de muita gente.
Sergio (Leone) tinha a minha idade, era só um ano mais velho. Sou de
1930, ele, de 1929. Sergio inventou um gênero, o spaghetti western.
Formatamos o personagem, O Estranho Sem Nome, em conjunto. Eu lhe sugeri
que o Estranho devia se explicar pelos gestos. Havia muitas falas
desnecessárias. Sergio era filho de diretor, criado no e pelo cinema.
Tinha entusiasmo, motivava as pessoas. E, embora ouvisse a gente, ele
com certeza sabia o que queria. Don (Siegel) já era um veterano. Tinha
quase 60 anos quando fizemos Meu Nome É Coogan (em 1968). Ele começou
como assistente de montagem, fez um longo aprendizado nos estúdios. Don
já pensava num filme como montagem. Só de ver os dois trabalharem,
aprendi muita coisa.
Seu personagem em Curvas da Vida está ficando surdo e tem problemas com as filha. Ele fica na contracorrente das invenções tecnológicas. Não é um ataque à juventude?
Seu personagem em Curvas da Vida está ficando surdo e tem problemas com as filha. Ele fica na contracorrente das invenções tecnológicas. Não é um ataque à juventude?
Clint Eastwood - Você
quer me dizer que o filme é reacionário? Fale com Robert (Lorenz).
Embora o jovem disponha hoje de mais ferramentas, isso não significa que
saiba mais, conheça mais nem que esteja mais preparado para a vida. O
conflito de Curvas da Vida é entre pai e filha, mas também é entre esse
homem que está ficando surdo e necessita de ajuda para 'ouvir' o som da
jogada. É o som que lhe diz quem é o grande jogador. O jovem, com seu
computador, não tem tempo para o ouvido. Não sou contra a técnica, seria
absurdo, só acho que ela não é soberana. Acima da técnica existem
inteligência, sensibilidade, humanidade. Não foi a técnica que fez a
grandeza de Sergio (Leone) e Don (Siegel), mas o uso que eles fizeram
dela.
Existe um culto ao senhor, mas na França surgiu um livro (Clint Fucking Eastwood) que contesta o mito. Diz que só os filmes não explicam sua fama. Critica o machismo. O que pensa disso?
Existe um culto ao senhor, mas na França surgiu um livro (Clint Fucking Eastwood) que contesta o mito. Diz que só os filmes não explicam sua fama. Critica o machismo. O que pensa disso?
Clint Eastwood - Não
li o livro e, nesta quadra da minha vida, nem tenho tempo para isso. O
que sei é que ninguém chega à posição em que estou mantendo minha
independência na indústria e sendo uma unanimidade. Você é uma
unanimidade? Com esses cabelos brancos, eu diria, mesmo sem conhecê-lo,
que não. Quando se tenta agradar a todo mundo, não se agrada a ninguém,
muito menos a nós mesmos. Provavelmente vão contestar muitas de minhas
escolhas. Nunca quis ser uma unanimidade. Houve uma época em que as
feministas adoravam me odiar. Nunca mudei para agradá-las. O que tento é
ser coerente e defender minhas ideias sobre o cinema e o mundo.
Acredite, é bem difícil.
O senhor tem apoiado a candidatura de Mitt Romney à Presidência dos EUA. Por quê?
O senhor tem apoiado a candidatura de Mitt Romney à Presidência dos EUA. Por quê?
Clint Eastwood - Não
quero ser ofensivo com (Barack) Obama, mas com ele a América e o mundo
andam à deriva. Gostem ou não as pessoas no exterior, a América
representa o poderio militar e econômico. Não pode se vergar. As
políticas de Obama são sociais. Muita intervenção do Estado para o meu
gosto. Sou contra o intervencionismo. Detesto quando o estúdio vem me
dizer o que tenho de fazer. Venho de uma família que passou
dificuldades, até fome, na depressão dos anos 1930. Meu pai nunca
esperou que o governo viesse nos salvar. Ele deu duro e nos ensinou a
nunca depender dos outros. Um país é como uma casa. Precisamos de uma
boa limpeza e quem pode fazê-la é Romney.
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