Por Estadão,
A presidente Dilma Rousseff completa meio mandato com um balanço
econômico assustador - dois anos de produção estagnada, investimento em
queda, inflação longe da meta, exportação emperrada e contas públicas em
deterioração. Desemprego baixo e um consumo ainda vigoroso são os dados
positivos, mas insuficientes para garantir a reativação de uma
indústria sem músculos para disputar espaço nos mercados. Sobram
palavras: um discurso triunfal sobre um "novo modelo macroeconômico",
baseado em juros mais baixos e câmbio menos valorizado, promessas de
grandes obras de infraestrutura e de reformas de amplo alcance. De
concreto, houve a redução dos juros, o que certamente contribuiu para o
aumento da popularidade de Dilma. Um balanço provisório basta para
mostrar o alto custo dos erros cometidos em dois anos pelos condutores
da política econômica, liderados, é bom lembrar, por uma presidente
voluntariosa.
O crescimento econômico deste ano está estimado em torno de um por
cento por economistas do Banco Central (BC), do mercado financeiro e das
consultorias mais importantes. Esse resultado seria ruim em qualquer
circunstância, mas no caso brasileiro há uma circunstância especial. No
ano anterior o Produto Interno Bruto (PIB) havia aumentado apenas 2,7%. O
País perdeu o passo entre os emergentes de todo o mundo. Este detalhe é
importante, porque desqualifica as tentativas de atribuir o mau
desempenho brasileiro à crise global, ao tsunami monetário criado pelos
bancos centrais do mundo rico e à má vontade dos deuses.
Os problemas são internos, todos fabricados no Brasil por uma
política há muito tempo defeituosa e piorada pela teimosia do atual
governo. Segundo o Tesouro, os investimentos do governo central foram de
janeiro a novembro 22,8% maiores que os de um ano antes e atingiram R$
54,9 bilhões. Mas isso equivale a pouco mais de 50% do total previsto no
Orçamento. Além disso, o valor inclui os financiamentos do programa
Minha Casa, Minha Vida e boa parte dos desembolsos foi de restos a
pagar. Se depender da eficiência federal, continuarão faltando
investimentos tanto para reativar a economia em 2013 quanto para
garantir um crescimento mais vigoroso nos anos seguintes.
Tudo somado, o valor investido pelo setor privado, pela administração
pública direta e pelas estatais deve ter ficado em torno de 18% do PIB.
Em outros países latino-americanos a proporção ultrapassa 25% e nos
emergentes da Ásia supera 35%. Além disso, é preciso levar em conta a
qualidade dos projetos e a eficiência da execução. Não basta investir.
Os alvos podem ser mal escolhidos e o dinheiro, desperdiçado. O
histórico dos projetos federais, tanto da administração direta quanto
das estatais, tem sido muito ruim há vários anos. Aparelhamento,
loteamento de cargos, incompetência e corrupção têm custado muito caro.
A inflação alta contrasta com o baixo ritmo de atividade. Em outros
países, tolera-se alguma alta de preços para garantir algum impulso à
economia, e sempre por um tempo muito limitado. No Brasil, o governo vem
mantendo há vários anos a meta de 4,5%, muito alta quando comparada com
os padrões internacionais. Neste ano, o BC cortou juros e renunciou a
combater o aumento de preços, em troca de um crescimento econômico
humilhante para um Brics.
Os preços ao consumidor medidos pela Fundação Getúlio Vargas e
incluídos no IGPM subiram 5,79% neste ano. De novembro para dezembro
houve aceleração de aumentos em seis dos oito componentes do indicador. O
IPCA, calculado pelo IBGE e usado como referência para a política
oficial, aumentou 5,53% nos 12 meses terminados em novembro. A alta
internacional dos preços agrícolas foi obviamente apenas uma parte dessa
história.
A balança comercial refletiu a fraqueza da indústria diante dos
competidores, o erro de uma política de estímulos voltada para o consumo
e, naturalmente, a dependência excessiva das vendas de matérias-primas à
China. Até novembro, o valor exportado foi 4,9% menor que o de um ano
antes, pela média dos dias úteis, e o saldo comercial, 31,1% inferior ao
de igual período de 2011. Os números finais do ano devem sair na
quarta-feira e confirmarão, com certeza, o alto custo de vários erros
políticos.
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