Por Folha de São Paulo,
O BRASIL DESPIOROU, a gente dizia faz uns três, quatro anos. Cresceu um
pouco, embora menos que vizinhos pobrinhos. Ficou menos desigual, para
no entanto continuar ainda um dos países mais desiguais. Tornou-se algo
menos violento, mas é um dos lugares onde mais se morre de tiro e
acidente, onde se encarcera gente com mais vontade, de resto em muquifos
revoltantes.
A gente quase toda continua naquela alegria inadvertida de quem pode
comprar mais coisas, ver TV em telas maiores e enfiar a cabeça de
toupeira em milhões de celulares equipados de bobagem, os novos antolhos
e hábitos de quem não tem educação de qualquer espécie.
Não se trata de fazer troça dos pobres que entraram no mercadinho (da
esquina), mas de dizer que é muito pouco e que está difícil de haver
mais.
Seria este um mau humor dos tempos das depressões recorrentes no Brasil,
típico das conjunções de economia lerda com irrupções mais agressivas
de burrice e primitivismo?
Pode ser. Espera-se que o país pelo menos volte a crescer, por sorte,
por motivos que ninguém viu ou pelos imprevistos da história do mundo, o
que muita vez foi o nosso caso. Mas há movimentos com cheiro de
inércia, maus passos num mau caminho de onde é difícil escapar.
Considere-se o caso da política. Já vimos, claro, a política dar
cambalhotas. Mas o quanto já não seria sistemática a existência de um
PMDB (ou similares), uma instituição de chantagem política e de
distribuição de favores entre membros maiores e menores de elites
regionais toscas? Não é nova essa geringonça política: tem um quarto de
século. Já durou mais que a ditadura militar.
Esse PMDB deve eleger presidentes da Câmara e do Senado, que então
estarão sob o mando de gente com notória ficha corrida, todos mandões
nos Estados mais pobres e socialmente violentos do país.
O Congresso não tem lideranças relevantes que não sejam os negocistas ou
líderes da bancada disso ou daquilo, que atuam especificamente para
clientes ou interesses menos gerais. Os novos líderes políticos no
Executivo, entre 40 e 50 e poucos, têm a capivara (ficha) algo mais
limpa, assim como a cabeça, limpa de qualquer ideia.
Esse tipo de gente é capaz de propor mudanças institucionais? Alguma
reforma social profunda, como dar conta do desastre educacional? São
capazes de entender problemas da nova diplomacia econômica ou qualquer
outra, aliás? De ciência e tecnologia? Parceiros, cracas, quando não
sanguessugas ou salteadores, do Estado balofo e errado são capazes de
reformá-lo?
O Brasil está a um passo de começar a envelhecer sem ter ido à escola,
de perder a oportunidade de formar bem a maior geração de pessoas
economicamente ativas -de perder a oportunidade de enriquecer, para nem
falar de outras utilidades da educação, em geral menosprezadas por
economistas (civilidade, democracia etc.). Alguém parece exasperado com
tal coisa?
O presente governo popular e democrático parece preocupado com algo mais
do que malabarismos para remendar os índices econômicos do mês que vem?
Faz mais de década que, em economia, vivemos do remendo. Já é quase uma
"era", outra era de insensatez, de burrice grudenta. Já era.
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