Por Diario do Comércio,
Na cidade de Mount Carmel, Pennsylvania, uma menininha de
cinco anos foi suspensa da escola por ter ameaçado atirar na colega com
um revólver de plástico cor-de-rosa que dispara... bolinhas de sabão.
Na iminência de passar das palavras aos atos, a perigosa criaturinha foi
rovidencialmente desarmada pelas autoridades competentes e submetida à
penalidade prevista no sábio regulamento escolar.
É a prova de que os EUA melhor fariam se proibissem logo todos os
brinquedos em forma de armas, quer disparem bolinhas de sabão, tufos de
pelúcia ou bilhetinhos de "Eu te amo", e obrigassem todas as crianças a
brincar de casinha, independentemente dos sexos, para que não cultivem o
desejo maligno de algum dia atirar num bandido antes que o bandido
atire nelas.
Mas a grande nação do norte não atingiu ainda aquele estágio superior
de civilização que permitiu ao nosso País, mediante essa medida
profilática e a drástica repressão do comércio de armas entre adultos,
ter apenas 4,5 vezes mais assassinatos anuais a bala do que a truculenta
sociedade gringa, embora tenha também cem milhões de habitantes a menos
e trinta vezes menos armas legais em circulação.
Eu mesmo sou exemplo vivo do perigo extremo de deixar as crianças
brincarem com armas. Passei a infância tentando ser Roy Rogers ou
Hopalong Cassidy e, ao crescer, tornei-me um assassino intelectual de
idiotas, um dano que poderia ter sido evitado se no meu tempo, em vez de
uma indecente facilidade de acesso a revólveres e espingardas de
plástico, existissem os Teletubbies, os Menudos e sr. Luiz Mott. Estes,
infelizmente, só apareceram por volta da década de 90 do século XX,
quando minha alma já estava corrompida.
Mas às vezes as criancinhas, essa parte especialmente temível da espécie
humana, frustram as melhores intenções dos desarmamentistas e descobrem
meios incomuns e patológicos de se dedicar à prática da violência
mortífera. Numa escola de Maryland, dois meninos sofreram a mesma
punição da garotinha da Pennsilvanya porque, sem armas de plástico ou de
madeira ao seu alcance, mas empenhados assim mesmo em brincar de
polícia e ladrão, trocavam tiros com pistolas imaginárias formadas com o
indicador e o polegar, este imitando o cão do revólver, aquele o cano.
Em situação tão inusitada, o educador, não podendo apreender
equipamentos bélicos inexistentes nem cortar os dedinhos assassinos, só
tem um caminho a seguir: investigar cientificamente de onde os meninos
tiraram a ideia extravagante de que polícias e ladrões troquem tiros, e
em seguida submetê-los a rigoroso treinamento de sensitividade para que
entendam que essas duas classes de profissionais jamais se entregam a
semelhante exercício.
Aí novamente os nossos vizinhos do norte muito teriam a aprender com a
experiência brasileira. Por aqui não tiramos as armas somente das mãos
das crianças, mas da sua mente, dirigindo sua atenção desde a mais tenra
idade para práticas mais saudáveis como a masturbação solitária ou
coletiva e a interbolinação de ambos os sexos.
Infelizmente, a dureza implacável do universo reacionário tem impedido
que tão salutar medida surta os efeitos esperados. As forças do além
coligam-se para frustrar as iniciativas mais belas dos nossos
governantes iluminados e intelectuais progressistas.
Numa verdadeira conspiração voltada a desmoralizar em especial a nossa
mídia, tão merecedora do nosso respeito e consideração, que com desvelo
maternal nos adverte diariamente para a crescente epidemia de violência
assassina nos EUA, o número total de homicídios naquele país vem caindo
despudoradamente nas últimas três décadas, passando de 9,8 por cem mil
habitantes em 1981 para menos da metade (4,7) em 2011, malgrado o
aumento prodigioso do número de armas legais em posse da população
civil.
No nosso País, ao contrário, com um controle de armas cada vez mais
severo, a proibição total de brinquedos em forma de armas e as
sucessivas campanhas de entregas voluntárias de revólveres, pistolas,
rifles e espingardas ao governo, o número de homicídios duplicou no
mesmo período, chegando a uns 36 por cem mil habitantes em 2010. Oh,
mundo injusto!
Ainda assim, continuam existindo na república americana mentes lúcidas e
corajosas, como a do presidente Barack Hussein Obama, que prometem
eliminar, mediante a proibição das armas, os oito mil homicídios anuais
que ali se verificam. É verdade que, no mesmo período de um ano, segundo
as estatísticas oficiais, quatrocentos mil cidadãos e cidadãs dos EUA
salvam suas vidas reagindo a bala contra serial killers, assaltantes,
estupradores etc. Desgraçadamente as almas de pedra dos reacionários e
sócios da National Rifle Association ainda se recusam a entender que
para impedir oito mil assassinatos vale a pena fomentar outros 392 mil.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
1. Seja polido;
2. Preze pela ortografia e gramática da sua língua-mãe.