Por Olavo de Carvalho,
O estudo mais completo já empreendido sobre assassinatos
em massa no mundo é o do professor de Ciência
Política da Universidade do Havaí, Rudolph J.
Rummel, que lhe rendeu o Lifetime Achievement Award
da American Political Science Association em 1999. O essencial
da pesquisa é resumido em Never Again: Ending War,
Democide & Famine Through Democratic Freedom (Coral
Springs, FL, Lumina Press, 2005), e os dados completos estão
no site http://www.hawaii.edu/powerkills.
Rummel substituiu ao conceito de “genocídio”,
que lhe parece muito vago, o de “democídio”,
com o qual designa especificamente a matança de populações
civis por iniciativa de governos. Resenhando os episódios
de democídio documentados desde o século III
a.C. até o fim do século XIX, ele chega a um
total aproximado de 133.147.000 vítimas, destacando-se
aí, como supremos assassinos em massa, os imperadores
chineses (33.519.000 mortos em 23 séculos) e os invasores
mongóis na Europa (29.927.000 mortos entre os séculos
XIV e XV).
Quando a pesquisa chega ao século XX e entram em cena
os governos revolucionários, as taxas de assassinato
em massa sofrem um upgrade formidável, subindo
para 262 milhões de mortos entre 1900 e 1999 –
quase o dobro do que fôra registrado em toda a história
universal até então. Desses 262 milhões,
nem tudo, é claro, foi obra de governos revolucionários,
mas a diferença entre eles e seus concorrentes é
significativa. Todos os colonialismos somados (Inglaterra,
Portugal, etc.) mataram 50 milhões de pessoas, das
quais pelo menos 10 milhões foram assassinadas por
um só governo proverbialmente cruel, o do Rei Leopoldo
da Bélgica. O império japonês, por seu
lado, matou aproximadamente 5 milhões, quase todos
na China.
Vejam agora o desempenho dos governos revolucionários:
China, 76.702.000 mortos entre 1949 e 1987; URSS, 61.911.000
mortos entre 1917 e 1987; Alemanha nazista, 20.946.000 mortos
entre 1933 e 1945; China nacionalista (Kuomintang) 10.075.000
mortos entre 1928 e 1949 (o Kuomintang, embora inimigo dos
comunistas, era também um governo revolucionário,
responsável pela destruição da mais antiga
monarquia do mundo). Às sete dezenas de milhões
de vítimas do governo comunista chinês devem
se acrescentar 3.468.000 civis assassinados pelo Partido Comunista
de Mao Dzedong nas áreas sob o seu controle antes da
tomada do poder sobre toda a China, o que eleva o desempenho
do comunismo chinês a nada menos de 80 milhões
de mortos – equivalente à metade da população
brasileira.
Governos revolucionários em áreas menores também
não se saíram tão mal, comparativamente
à modéstia de seus territórios: Camboja,
2.035.000 mortos entre 1975 e 1979; Turquia, 1.883.000 mortos
entre 1909 e 1918; Vietnam, 1.670.000 mortos entre 1945 e
1987 (quase o dobro do total de vítimas da guerra,
que renderam aos EUA tantas críticas da mídia
internacional); Polônia, 1.585.000 mortos entre 1945
e 1948; Paquistão, 1.503.000 mortos entre 1958 e 1987;
Iugoslávia sob o Marechal Tito (tão louvada
como alternativa de “socialismo democrático”
à brutalidade soviética), 1.072.000 mortos entre
1944 e 1987; Coréia do Norte, 1.663.000 mortos entre
1948 e 1987; México, 1.417.000 mortos entre 1900 e
1920 (especialmente cristãos).
O total sobe a aproximadamente 205 milhões de mortos.
Tudo ao longo de um só século. As duas guerras
mundiais somadas mataram 60 milhões de pessoas, entre
combatentes e civis. A Peste Negra, de 541 até 1912,
matou 102 milhões. Nada, absolutamente nada no mundo
se compara ao instinto mortífero dos governos revolucionários.
A promessa de um “outro mundo possível”
transformou-se no mais letal pesadelo que a humanidade já
viveu ao longo de toda a sua história. Aristóteles
já dizia que a essência da tragédia política
é quando o perfeito se torna o inimigo do bom, mas
ele se referia somente a casos individuais. Ele não
poderia prever que um dia sua definição teria
uma confirmação sangrenta em escala mundial,
arrastando povos inteiros para os pelotões de fuzilamento,
as câmaras de gás e a vala comum.
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