Tradução: André Assi Barreto
A posição do ARI (Ayn Rand Institute) é o libertarianismo?
Não. Porém, o significado do
termo “libertário” mudou ao longo das décadas. Consequentemente, indivíduos ou
organizações que hoje se autointitulam “libertárias” podem ou não sustentar
ideias às quais nos opomos.
O libertarianismo a que nos
opomos é um conjunto específico de ideias, cuja essência é dedicada e
profundamente subjetivista. O libertarianismo, nesse sentido, foi encabeçado
por Murray Rothbard e seus seguidores nos de 1960 e 1970. Sua expressão
política é o anarquismo ou “anarcocapitalismo”, como geralmente eles o chamam,
além de uma política externa de um antiamericanismo radical (que eles tentam
passar como “não-intervencionismo”).
Os “libertários”, nesse uso do
termo, plagiaram o princípio da não-iniciação do uso da força de Ayn Rand e o
converteram num axioma, negando a necessidade e a relevância dos seus
fundamentos filosóficos – mas apenas a ética que o subjaz, mas também a
metafísica e a epistemologia subjacente.
Essa é a posição anti-objetiva e
anti-filosófica que, em 1985, o então presidente do conselho do ARI, Peter
Schwartz, apropriadamente denunciou em seu ensaio “Libertarianismo: a perversãoda liberdade”. Essa compreensiva crítica do libertarianismo expôs a essência do
movimento: o niilismo. (Uma versão condensada desse artigo está publicada no“The Voice of Reason: Essays in Objectivist Thought” sob o mesmo título). Nós
concordamos e seguimos concordando com a essência da análise de Peter Schwartz.
Como fora longamente mostrado
pelo sr. Schwartz, este libertarianismo declara que o valor da liberdade e o
mal de iniciar o uso da força são coisas primárias auto-evidentes, não
precisando de justificação ou até mesmo explicação – deixando conceitos-chave
como “liberdade”, “força”, “justiça”, “bem” e “mal” indefinidos. Reclama
compatibilidade entre todas as visões da metafísica, epistemologia e ética –
até mesmo subjetivismo, misticismo, ceticismo, altruísmo e niilismo –
substituindo o “ódio pelo estado” por conteúdo intelectual.
Esse é o motivo pelo qual Ayn
Rand se opôs a ele desde o começo.
Num impresso de 1972, Rand
expressou esse alerta para indivíduos interessados em defender o capitalismo:
“Antes de tudo, não se junte aos
grupos ou movimentos que adotam uma ideologia errada, com a finalidade de
“fazer algo”“. Por “ideológicos” (nesse contexto), me refiro a grupos ou
movimentos que proclamam alguns objetivos políticos vagamente generalizados,
indefinidos (a, normalmente, contraditórios). (Exemplos: o partido conservador,
que subordina a razão à fé e substitui a teocracia pelo capitalismo; os hippies
“libertários”, que subordinam a razão a seus caprichos e substituem o
anarquismo pelo capitalismo). Juntar-se a tais grupos significa reverter a
hierarquia filosófica e vender princípios fundamentais em nome de alguma ação
política que está fadada ao fracasso. (What Can One Do? The Ayn Rand Letter, vol 1, nº 7)
O ARI sempre viu o movimento que mantém
esse conjunto de ideias e atitudes como um inimigo do capitalismo e da
liberdade, e continuamos a pensar assim. Nunca sancionaremos ou cooperaremos ou
colaboraremos com qualquer organização que advogue o “libertarianismo” nesse
sentido descrito. O princípio envolvido foi identificado por Ayn Rand: “Em
havendo qualquer colaboração entre
dois homens (ou grupos) que sustentam princípios básicos diferentes, é o mais
malévolo ou irracional que vence” (“The Anatomy of Compromise” Capitalism, The Unknown Ideal).
Quando essa abordagem
subjetivista com relação à filosofia e à política dominou o movimento
libertário nos anos 70 e 80, o ARI se recusou a cooperar com qualquer um
pertencente a ele. Tal colaboração teria constituído uma sanção da
anti-ideologia do libertarianismo. Entretanto, hoje nós vemos evidência que
sugere que não existe mais um movimento libertário coeso. O movimento se tornou
fragmentado e sem liderança (tanto intelectual como em termos de organização),
e o termo “libertário” está progressivamente perdendo seu sentido original.
Assim, quando alguém ou alguma
organização se intitula ou é considerada por outros como “libertária”, não
deve-se assumir que isto significa que a pessoa ou organização é parte do
movimento anti-filosófico denominado libertário. O que importa, ao avaliar
esses indivíduos e organizações, são as ideias que eles de fato sustentam e
advogam.
O termo “libertário” tem sido
usado de forma crescente nos últimos anos e com um significado vagamente
atrelado à liberdade e mais relacionado ao controle governamental. Muitas pessoas,
incluindo repórteres e comentadores, percebem que nem “esquerdistas” e tampouco
“conservadores” são advogados da verdade. Os comentadores precisam de um termo
diferente para descrever aqueles que parecem estar mais perto da liberdade e
que normalmente usará o termo “libertário”.
Entretanto, nenhum dos três
termos políticos – “esquerdista”, “conservador” ou “libertário” – tem um
significado definido, porque não existem ideologias claramente definidas.
Consequentemente, o fato de hoje alguém se intitular ou ser considerado por
outros como “libertário”, não diz absolutamente nada acerca do seu ponto de
vista político: ele poderia ser um religioso, um anarquista, um capitalista
laissez-faire, um “em cima dom muro”, etc. Dada a confusão terminológica corrente,
nós observamos o conteúdo das ideias defendidas, não apenas o rótulo ligado a
elas.
Qual a posição política de um
objetivista, se não a libertária?
O objetivismo não é esquerdista,
conservador ou libertário. O objetivista tem princípios políticos claros,
bem-definidos e únicos, que existem como consequências de seus fundamentos
filosóficos. A melhor forma de um objetivista descrever sua posição
político-social é usar os termos “pró-capitalista” e “capitalista
laissez-faire”. O capitalismo, na definição de Ayn Rand, “é um sistema social
baseado no reconhecimento de direitos individuais, incluindo direitos de
propriedade, no qual toda propriedade é privada” [“What is Capitalism?
Capitalism: The Unknown Ideal]. Como Rand escreveu em 1962 para descrever sua posição:
O objetivismo é um movimento
filosófico; visto que a política é um ramo da filosofia, o objetivismo advoga
certos princípios políticos – especificamente aquelas do capitalismo
laissez-faire – como consequência e aplicação prática última de seus princípios
filosóficos fundamentais. Ele não
considera a política como um objetivo separado ou primário, isto é: como um
objetivo a ser alcançado sem um contexto ideológico mais amplo... Objetivistas
não são “conservadores”. Somos radicais pelo capitalismo; lutamos por aquela
base filosófica que o capitalismo não teve e sem a qual ele está condenado a
perecer. [“Choose Your Issues”. The Objectivist Newsletter, vol. 1, nº 1].
É claro que um defensor da
filosofia de Rand também pode simplesmente usar o termo “objetivista” para
descrever sua ideologia política, nomeando “direitos individuais” como o
princípio político essencial. Esses termos estão em ampla circulação hoje em
dia, graças à familiaridade crescente com o pensamento de Rand.
Quais são as considerações que
regem as decisões do ARI na hora de lidar com outra organização, especialmente
uma que se descreva como libertária?
Ainda existem organizações
ligadas à anti-ideologia corrupta do libertarianismo, no primeiro sentido da
palavra. O ARI não lida com tais organizações. Embora lidar com uma organização
ideológica não necessariamente implique concordância (por exemplo, quando o ARI
co-patrocina um debate), não implica que se considere a organização legítima –
o que, no caso da anti-ideologia dos libertários, não consideramos.
Porém o ARI busca trabalhar com
outras organizações em assuntos ou projetos específicos com o propósito de
aumentar o alcance e impacto do ARI. Nós avaliamos se é apropriado e benéfico
para nossa missão trabalhar uma organização em particular, se for o caso,
averiguaremos de que forma e sob quais condições. Por muitos anos, e
especialmente com o crescimento do ARI tem juntado recursos e pessoas para
fazer isso; temos trabalhado com muitas organizações e especialistas fora do
ARI.
Algumas das diretrizes aplicadas
pelo ARI para decidir se trabalharemos ou não com outra organização são:
1 Já
que o ARI é uma organização ideológica – nossa missão é fazer avançar uma
filosofia nova e radical – prestamos atenção especial à natureza ideológica de
qualquer um que trabalhe e se junte nas atividades que nos engajamos. Tentamos
nos assegurar que nossas ações não promovem, ainda que sem intenção, ideias
filosóficas ou políticas às quais nos opomos. Não esperamos concordância
completa, mas nunca trabalhamos com organizações que ofusquem diretamente o Objetivismo ou Ayn
Rand.
2 É
vital na nossa relação com outras organizações que não forcemos uma
concordância onde não existe uma. Por advogarmos uma nova filosofia - como
disse Rand, os objetivistas são radicais pelo capitalismo, que lutam pela base
filosófica que o capitalismo nunca teve de fato – raramente há concordância
ideológica profunda. Até mesmo no nível da política, é raro para nós que haja
concordância completa com a posição de outra organização, pois não vemos
posições políticas como desvinculadas da filosofia. Consequentemente, devemos
tomar cuidado ao estabelecer uma colaboração, para que ela não engendre
confusão acerca do que defendemos.
3 Existem
muitas organizações que não são primariamente ideológicas em sua missão ou
atividades, mas em vez disso estão mais interessadas em afetar o direito e a
política. Ao decidir se é ou não apropriado para nós lidar com tais
organizações, nós avaliamos, em conjunto com os pontos 1 e 2 acima, a
legitimidade e o valor da política e das mudanças legais que estão tentando
trazer.
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