Por André,
Se
alguém falar que o a caridade é insuficiente para resolver os problemas
de uma comunidade, e não o faz melhor que o Estado, recomendo esse
trecho do debate do Olavo de Carvalho com Alexander Dugin:
Não é coincidência
que o país onde mais se cultivou a liberdade dos indivíduos seja também
aquele em que a participação em atividades comunitárias de índole
caritativa e humanitária seja a maior do mundo. Este traço da vida
americana é amplamente ignorado fora dos EUA (e totalmente ocultado pelo
anti-americanismo militante de Hollywood), mas não vejo motivo para
acreditar antes nas opiniões deformadas e fantasias odientas da
indústria internacional de mídia do que naquilo que vejo com meus
próprios olhos todos os dias e que pode ser confirmado a qualquer
momento com dados quantitativos substanciais. Eis alguns:
1. Os americanos são o povo que mais contribui para obras de caridade no mundo.
2. Os EUA são o único país do mundo onde as contribuições populares
para obras de caridade superam o total da ajuda governamental.
3. Entre os doze povos que mais doam em contribuições voluntárias – EUA,
Reino Unido, Canadá, Austrália, África do Sul, República da Irlanda,
Holanda, Singapura, Nova Zelândia, Turquia, Alemanha e França –, as
contribuições americanas são mais que o dobro das do segundo colocado
(Reino Unido). Se algum engraçadinho quiser depreciar a importância
desse dado, alegando “Eles dão mais porque são mais ricos”, esqueça: as
contribuições não estão aí classificadas em números absolutos, mas em
porcentagem do PNB. Os americanos simplesmente arrancam mais do próprio
bolso para socorrer pobres e doentes, mesmo em países inimigos. As
solidaríssimas Rússia e China nem entram na lista dos contribuintes.
4. Os americanos adotam mais crianças órfãs – inclusive de países inimigos – do que todos os outros povos do mundo somados.
5. Os americanos são o único povo que, em cada guerra de que
participam, reconstroem a economia do país derrotado, mesmo ao preço de
fazer dele um concorrente comercial e um inimigo poderoso no campo
diplomático. Comparem o que os EUA fizeram na França, na Itália, na
Alemanha e no Japão com o que os chineses fizeram no Tibete ou a Rússia
no Afeganistão (detalhes nas mensagens subseqüentes).
6. Os
americanos não oferecem aos pobres e necessitados somente o seu
dinheiro. Dão-lhes o seu tempo de vida, sob a forma de trabalho
voluntário. O trabalho voluntário é uma das mais velhas e sólidas
instituições da América. Metade da população americana dedica o seu
tempo a trabalhar de graça para hospitais, creches, orfanatos, presídios
etc. Que outro povo, no mundo, fez da compaixão ativa um elemento
essencial do seu estilo de existência?
7. Mais ainda, o valor
que a sociedade americana atribui às obras de generosidade e compaixão é
tanta, que nenhum potentado das finanças ou da indústria pode se
esquivar de fazer anualmente imensas contribuições a universidades,
hospitais, etc., pois caso se recuse a fazê-lo será imediatamente
rebaixado do estatuto de cidadão honrado ao de inimigo público.
O prof. Duguin opõe o individualismo americano ao “holismo”
russo-chinês. Diz que no primeiro as pessoas só agem segundo suas
preferências individuais, enquanto no segundo elas se integram em
objetivos maiores propostos pelo governo. Mas, com toda a evidência, os
governos da Rússia e da China têm-lhes proposto antes matar os seus
semelhantes do que socorrê-los: nenhuma obra caritativa, na Rússia e na
China, jamais teve as dimensões, o custo, o poder e a importância social
do Gulag, do Laogai e das polícias secretas, organizações tentaculares
incumbidas de controlar todos os setores da vida social mediante a
opressão e o terror.
Em segundo lugar, é verdade que os
americanos não fazem o bem porque a isso são forçados pelo governo, mas
porque são estimulados a fazê-lo pelos valores cristãos em que
acreditam. A liberdade de consciência, em vez de descambar em pura
anarquia e luta de todos contra todos, é moderada e canalizada pela
unidade da cultura cristã que, malgrado todos os esforços da elite
globalista para marginalizá-la e destruí-la, ainda é hegemônica nos EUA.
John Adams, o segundo presidente dos EUA, já dizia que uma Constituição
como a americana, assegurando liberdade civil, econômica e política
para todos, só servia para um povo moral e religioso e para nenhum
outro. A prova de que tinha razão é que, tão logo os princípios da moral
cristã começaram a ser corroídos desde cima, pela ação do governo
aliado às forças globalistas e à esquerda internacional que o prof.
Duguin tanto preza como reserva moral da humanidade, o ambiente de
honestidade e rigidez puritana que prevalecia no mundo americano dos
negócios cedeu lugar a uma epidemia de fraudes como nunca se vira antes
na história do país. O fenômeno está amplamente documentado no livro de
Tamar Frankel, Trust and Honesty: America's Business Culture at a
Crossroad (Oxford University Press, 2006).
O que digo não se
baseia só em estatísticas. Vivo há seis anos neste país e aqui sou
tratado com um carinho e uma compreensão que nenhum brasileiro, russo,
francês, alemão ou argentino (para não falar de cubanos ou chineses)
desfrutou jamais na sua própria terra. Tão logo me instalei neste
matagal da Virgínia, vieram vizinhos de todos os lados, trazendo doces e
presentes, oferecendo-se para levar as crianças à escola, para nos
apresentar à igreja da nossa preferência, para nos mostrar os lugares
interessantes da região, para nos ajudar a resolver problemas
burocráticos, e assim por diante. Good neighborhoord não é slogan de
propaganda. É uma realidade viva. É uma instituição americana, não
existe em nenhum outro lugar do mundo e não foi o governo que a criou.
Vem desde os tempos da Colônia de Jamestown (1602). Embora eu e minha
família sejamos católicos, o primeiro lugar que visitamos aqui foi a
Igreja Metodista, a mais próxima da minha casa. Chegamos lá, e que
estavam fazendo os crentes? Uma coleta de dinheiro para os meninos de
rua... do Brasil! Coleta acompanhada de discursos e exortações de partir
o coração. Senti vergonha de contar àquela gente que, segundo estudos
oficiais, a maior parte dos “meninos de rua” brasileiros têm casa, pai e
mãe, e só estão na rua porque gostam. A compaixão americana ignora a
mentira e a safadeza de muitos de seus beneficiários estrangeiros: nasce
da crença ingênua de que todos os filhos de Deus são, ao menos no
fundo, fiéis ao Pai.
Os americanos são tímidos e têm sempre a
impressão de que estão incomodando. Logo após a recepção inicial,
preferem manter distância, não se meter na sua vida. Só chegam perto se
você os convida. “I don’t want to impose” é uma frase quase obrigatória
quando visitam alguém. Mas tenha algum problema, sofra alguma
dificuldade, e eles virão correndo para ajudá-lo, com a solicitude de
velhos amigos. E isso não é só com os recém-chegados. Às vezes os
próprios americanos, acostumados a ouvir falar mal do seu povo, se
surpreendem ao descobrir a inesgotável reserva de bondade nos corações
de seus compatriotas. Leiam este depoimento de Bruce Whitsitt, um
campeão de artes marciais que de vez em quando escreve para o American
Thinker:
“Both before and after Dad died, good Samaritans came
out of nowhere to offer aid and comfort. I discovered that my parents
were surrounded by neighbors who had known them and cared about them for
many years…
After it was all over, I was struck by the unbelievable kindness of everyone who helped.
At the end of the day, this tragedy reopened my eyes to the
deep-running goodness of Americans. So many people in this country are
decent and good simply because they have grown up in the United States
of America, a society that encourages charity and neighborliness.
Decency is not an accident; in countries such as the old Soviet Union,
indifference was rampant and kindness rare because virtue was crushed at
every turn. America, on the other hand, has cultivated freedom and
virtuous behavior, which allows goodness to flourish. Even in Los
Angeles – that city of fallen angels, the last place on earth where I
would have expected it – I experienced compassionate goodness firsthand.
Goodness is not something that a beneficent government can bestow; it
flows from the hearts of free citizens reared in a tradition of
morality, independence, and resourcefulness.”
A nação americana
foi fundada na idéia de que o princípio unificador da sociedade não é o
governo, a burocracia estatal armada, mas a própria sociedade, na sua
cultura, na sua religião, nas suas tradições e nos seus valores morais. O
prof. Duguin, que não parece conceber outro modelo de controle social
senão a teocracia imperial russa, onde a polícia e a Igreja (mais tarde o
Partido) agem de mãos dadas para acorrentar o povo, só pode mesmo
imaginar os EUA como uma selva selvaggia de egoísmos em conflito,
provando que nada sabe da vida americana.
Não há talvez outro
país no mundo onde o senso de comunidade solidária seja tão forte quanto
nos EUA. Quem quer que tenha vivido aqui por algum tempo sabe disso, e
no mínimo se surpreende ante a presunção de que a China ou a Rússia
sejam, sob esse aspecto, modelos que os americanos devessem copiar.
Também é certo que esse senso comunitário só pode florescer num
ambiente de liberdade, onde o governo não imponha à sociedade nenhum
modelo “holístico” de bondade oficial. A maior prova disso é o conflito
aberto que hoje existe entre aquilo que Marvin Olasky, num livro
clássico, chama de “compaixão antiga” e a caridade estatal que há quatro
décadas vem tentando tomar o seu lugar. Onde quer que esta última tenha
prevalecido, aumenta a criminalidade, as famílias se dissolvem e o
individualismo egoísta sufoca o espírito de bondade inerente ao
individualismo libertário tradicional. Não foi só em livros como o de
Olasky que aprendi isso. Vejo-o todos os dias com os meus próprios
olhos. Na Virgínia, onde a população de negros é tão grande
proporcionalmente quanto no Brasil, a diferença de conduta entre os
negros velhos e os jovens dá na vista de cada visitante. Aqueles são as
pessoas mais gentis do mundo, têm uma espécie de elegância natural que é
o equilíbrio exato entre a humildade e a altivez. Os jovens são
irritadiços, arrogantes, prontos a exibir uma superioridade que não
existe, a sentir-se ofendidos por qualquer bobagem e a chamar os brancos
para briga sem o menor motivo. De onde vem a diferença? Os velhos foram
criados no ambiente da compaixão antiga, os jovens no do
assistencialismo estatal que os envenena de ressentimento “politicamente
correto”.
A vida no interior dos EUA é a melhor prova de que a
solidariedade comunitária tem nada a ver com coletivismo estatal e é
mesmo o contrário dele. Quanto mais intervenção “holista” aparece, mais
os laços naturais se desfazem, mais as pessoas se afastam umas das
outras, mais a “sociedade de confiança” de que falava Alain Peyrefitte
se deixa substituir pela sociedade da suspeita, da hostilidade mútua, do
ódio e do exclusivismo grupal. É o caminho que leva, em última
instância, ao Estado Policial. O prof. Duguin sabe perfeitamente disso,
tanto que sua defesa do “holismo” contra o “individualismo” culmina na
apologia aberta e franca do regime ditatorial como modelo para o mundo
inteiro.
Referências
dos dados utilizados:
10. V. The Center on Philantropy, Indiana
University, Giving USA 2010. The Annual Report on Philantropy for the
Year 2009, Giving USA Foundation, 2010; The Center for Global
Prosperity, Hudson Institute, The Index of Global
Philantropy and Remittances, Hudson Institute, 2010; Charities Aid
Foundation, International Comparisons of Charitable Giving, 2006;
Virginia A. Hodgkinson at al., Giving and Volunteering in the United
States. Findings from a National Survey Conduced by The Gallup
Organization, Washington D. C., Independent Sector, 1999; Lori
Carangelo, The Ultimate Search Book: Worldwide Adoption, Genealogy and
Other Secrets, Baltimore (MD), Clearfield, 2011.
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2. Preze pela ortografia e gramática da sua língua-mãe.