Por Instituto Liberal,
Imagine uma única pessoa influenciar uma geração inteira de
intelectuais e políticos americanos, liderar o principal grupo
terrorista da história do país na juventude e lançar a carreira do atual
presidente da sua sala de estar. Como se não bastasse, adicione ao
currículo ajudar a articular os movimentos “Occupy” e hoje ser a
principal mente por trás da restruturação dos currículos escolares da
nação mais poderosa do planeta. E fazer tudo isso quase sempre longe do
radar da imprensa e da opinião pública.
Caminhando pelas ruas de Chicago, esse senhor de brincos, óculos e
roupas desgrenhadas, beirando os setenta anos, não chama atenção, mas
poucos moldaram tanto o mundo ocidental nas últimas décadas quanto
William “Bill” Ayers, que aposentou as bombas e agora quer “mudar os EUA
a partir das salas de aula” e fazer do professor “uma influência maior
que os pais” na cabeça das crianças.
Criado num lar de alta renda, até os 21
anos Bill era um universitário normal com corte de cabelo, óculos e
roupas imitando Bob Dylan. Seu pai, Tom Ayers, chegou à presidência da
ComEd, a poderosa concessionária de energia de Chicago, mas mesmo com
uma sólida carreira como executivo sempre se identificou como um homem
de esquerda e apoiador de tudo que o filho viria a fazer na política.
Bill Ayers começou a se envolver com o movimento estudantil em 1965,
por conta dos protestos contra a Guerra do Vietnã e doutrinado pelos
professores da faculdade, a tropa de choque ideológica de Althusser,
Bourdieu e os filósofos franceses do pós-Guerra, marxistas e
radicalmente antiamericanos, alguns deprimidos pela derrota do nazismo e
outros ainda digerindo as revelações dos crimes de Stálin por Nikita
Khrushchov em 1956.
Já transformado em militante, participou de piquetes, quebra-quebras e
enfrentamentos com a polícia enquanto mergulhava de cabeça no SDS
(“Students for a Democratic Society”), o principal movimento estudantil
do país com mais de 100 mil filiados. Carismático e articulado, sua
liderança na organização cresceu de forma meteórica ao lado de
Bernardine Dohrn, jovem e bela advogada, ex-cheerleader no colégio,
também uma comunista tão radical e comprometida com a causa quanto
possível.
Juntos promoveram um racha no SDS, criando o “The Weather
Underground” em 1969. A facção de Ayers e Dohrn rompeu com a SDS porque
não aceitava seus métodos pacíficos de ação e queria partir para a luta
armada imediatamente, com objetivo declarado de derrubar o governo
americano e anexar o país ao comunismo internacional. Em 31 de julho de
1970, Bernardine Dohrn faz o famoso discurso público em que seu grupo
declara guerra aos EUA.
O “The Weather Underground” justificava o terrorismo por conta da
Guerra do Vietnã, dizendo que apenas reagia à violência “muito maior”
patrocinada pelo governo, numa espécie de prévia do proselitismo da Al
Qaeda. Eram jovens que conspiravam abertamente contra o país, inclusive
passando informações a inimigos e dando treinamento revolucionário para
grupos vietcongues.
Mesmo quarenta anos depois da criação do “The
Weather Underground”, nenhum dos seus membros mostra qualquer remorso.
Numa entrevista em 2008, Ayers declarou: “me recuso a chamar os
movimentos que participei de violentos, quem faz a violência é o governo
mais poderoso e militarizado do mundo.”
Um dos lemas mais conhecidos dos jovens da época era “Tragam a Guerra
para Casa”, que resumia a idéia principal de fazer a Guerra do Vietnã
visível para a opinião pública. Na lógica pervertida desses
revolucionários, o conflito era muito distante e só criando o caos no
próprio país o povo poderia entender o que estava acontecendo no outro
lado do mundo, uma idéia que muitos carregam até hoje.
Em 2011, ao ser
perguntado por um jovem manifestante se o Occupy Wall Street deveria ser
pacífico e respeitar as leis, Bill Ayers gargalhou: “revoluções não
respeitam leis, sua pergunta é hilária.”
De 1970 a 1975, o “The Weather Underground” partiu para a realização
de atentados terroristas com a explosão de bombas no Pentágono, no
Capitólio (sede do poder legislativo do país) e no prédio central da
polícia de NY e numa delegacia de São Francisco. Quando uma bomba
explodiu acidentalmente na sede do grupo, matando três de seus membros,
incluindo a namorada de Ayers, os remanescentes vão para a
clandestinidade e somem até 1980. Há rumores de que Ayers deixou a
namorada ainda viva no local e não prestou socorro para não comprometer a
fuga. Com a morte da namorada, começa a relação de Ayers com Dohrn, que
tiveram dois filhos e estão casados até hoje.
Ayers, Dohrn e seus “camaradas” eram jovens de classe média alta,
mimados e criados na abundância conquistada por seus pais nas décadas
após a vitória na Segunda Guerra. Hipnotizados pelas revoluções
comunistas que aconteciam em várias partes do mundo (Maio de 68,
Primavera de Praga e afins), abraçaram sem limites as drogas pesadas, a
vida em “comunidades coletivistas” e o sexo grupal, um “ato
revolucionário contra a opressão da monogamia burguesa”, entre outras
racionalizações para viagens lisérgicas e orgias sem fim.
As bandeiras do “The Weather Underground” eram consistentes com o que
defendia a “New Left”, a nova esquerda americana que seguia os passos
da “Nouvelle Gauche” francesa de revisionismo marxista. O novo marxismo
dos anos 60/70 defendia que não fazia mais sentido focar apenas na luta
de classes, para eles uma batalha do século XIX. Para intelectuais como
Hebert Marcuse ou ativistas como Saul Alinsky, o próximo passo para
avançar a agenda comunista era se apropriar das causas da chamada
contracultura (descriminalização das drogas e do aborto, ativismo gay,
desmilitarização do ocidente, superação da religião cristã,
ambientalismo radical, entre outros), ou seja, a face da esquerda
ocidental de hoje e até de alguns inocentes úteis da direita.
Alguns membros do “The Weather Underground” chegaram a ser condenados
e presos, mas a maioria deles, incluindo Ayers, conseguiu escapar da
prisão com chicanas jurídicas, aproveitando falhas nas investigações.
Bernardine Dohrn cumpriu pena de três anos.
Nasce o professor e acadêmico Bill Ayers
Com a exuberância econômica promovida por governos conservadores nos
anos 80 e a derrocada da URSS, revolucionários já quarentões como Bill
Ayers perceberam que a luta da esquerda não seria mais pelas armas mas
“por dentro do sistema”, com os instrumentos políticos da própria
democracia.
Nos anos 80, Ayers trocou as bombas pelas salas de aulas. Completou o
doutorado em pedagogia para crianças em idade até cinco anos e começou a
carreia como professor na mítica escola Summerhill, famosa pelos
métodos não convencionais de aprendizado. Começou também a escrever
livros sobre educação que estão entre os mais influentes do país. Poucos
atalhos para o sucesso acadêmico são tão eficientes como ser um ídolo
da panelinha de esquerda.
Na década seguinte, se envolve novamente com política. Começa a
trabalhar em 1995 com o prefeito de Chicago para a elaboração da
política educacional local e seu projeto de reforma da educação pública
da cidade recebe US$ 50 milhões da Annenberg Foundation. Ele vira um
herói da educação pública de Chicago, chegando a receber o título de
cidadão do ano pouco depois.
Neste mesmo ano conhece o “jovem ambicioso” candidato ao senado
estadual Barack Hussein Obama, na época com 34 anos. Ele vê o potencial
do rapaz e resolve apostar suas fichas nele. Faz um evento na sua casa
para lançar sua carreira política para os formadores de opinião de
Chicago e levantar fundos para a campanha. Com o apoio, Obama atropela
seus adversários internos no Partido Democrata e conquista a vaga nas
primárias, sendo eleito em 1996 como senador estadual de Illinois.
Barack Obama vira, segundo a autobiografia de Ayers, um “amigo íntimo
da família” e passa a frequentar sua casa. De 1995 a 2001, os dois
trabalharam juntos regularmente nos projetos educacionais da prefeitura
de Chicago. Em 1999, Ayers é empossado membro do board da organização
filantrópica de esquerda Woods Fund, que tem Obama como um dos
diretores, e os dois passam também a escolher em conjunto os movimentos
sociais para financiar, dar treinamento e apoiar com o dinheiro da
fundação até 2002.
Nessa época, Ayers esteve envolvido em outra polêmica: em 2001,
lançou seu livro autobiográfico e deu diversas entrevistas dizendo que
não estava arrependido de nada, pelo contrário, que sentia que não tinha
feito o suficiente como ativista. Mesmo sendo apenas uma infeliz
coincidência, quase satânica, ele estava em todos os principais jornais
americanos exatamente no dia 11 de setembro de 2001 falando de seu livro
e justificando o terrorismo. A repercussão foi a pior possível para um
terrorista aposentado que tentava relativizar moralmente seus atentados
exatamente naquele dia.
Suas idéias sobre a política externa americana, na prática, não
mudaram desde a juventude. Numa palestra em 2012, Ayers fez a seguinte
análise da situação do país: “Não há qualquer dúvida de que o império
americano está em declínio e esse processo acontece felizmente sem o
preço pago por outras nações imperialistas em milhões de vidas, como
aconteceu com a Inglaterra, a França e a Alemanha. Somos apenas 4% da
população mundial, consumimos os recursos desse planeta de uma maneira
desproporcional e isso tem que acabar. Precisamos colocar um fim na
mentalidade militarista e abraçar o processo do fim do império americano
como uma coisa boa.”
Occupy Chicago e Occupy as salas de aula.
Barack Obama seguiu seu caminho com sucessivas vitórias eleitorais
até as primárias do Partido Democrata para presidente em 2007, quando
Hillary Clinton denunciou suas conexões com Bill Ayers e, percebendo o
potencial tóxico da relação, o candidato passou a evitar contato público
com o antigo apoiador, dizendo inclusive que mal conhecia e que era
apenas “alguém que morava na vizinhança”. Ayers também disse em 2008 que
foi mal interpretado ao escrever em seu livro que Obama era um amigo da
família, que não era bem isso que queria dizer. Então tá.
Em 2008, Bill Ayers participa diretamente de uma nova revolução: a
criação de um currículo nacional para todas as escolas do país, o
“Common Core State Standards Initiative”, que começou a ser implementado
em 2009. O programa tem a singela intenção de “transformar
completamente a educação de cada criança americana” e, na prática,
federaliza as diretrizes da educação tirando o poder dos estados sobre
os currículos, algo que dá certo há 200 anos no país.
O governo Obama diz que o programa federal é “voluntário”, mas parte
importante das verbas federais de educação para os estados está atrelada
à aceitação do programa, criando um constrangimento quase irresistível
na prática. Todo o poder politico do governo federal está sendo usado
para enfiar o “Common Core” goela baixo dos estados e 46 deles já
aderiram, com honrosas exceções como o Texas.
Há a impressão digital de Ayers do começo ao fim do “Common Core”,
que foi estruturado pela “Achieve”, uma associação sustentada pela
fundação de Bill Gates, o bilionário esquerdista da Microsoft que
recentemente disse lamentar que nos EUA haja tantos limites
constitucionais aos poderes de Obama, já que em outros países o
presidente tem mais liberdade para implementar sua agenda sem tantas
amarras. Kim Jong-un não diria melhor.
O pacotão do “Common Core” é ainda mais assustador quando se
considera o enorme banco de dados que será montado para monitorar cada
criança do país. Todas as leis que protegem a privacidade das crianças
estão sendo revistas para permitir o acesso direto do governo federal às
informações escolares de cada estudante. Alguns dos pontos a serem
avaliados pelo programa em discussão são puramente políticos: a
capacidade do aluno de identificar o “viés ideológico” das informações
que recebem, sua “aceitação da diversidade” e disponibilidade de
submissão à autoridade superior, como denunciado por vários professores
horrorizados com algumas dessas propostas.
Além da Microsoft, o Google também está de corpo e alma no projeto,
dando um grande foco à aceitação do seu pacote de aplicativos pelas
escolas participantes, que integradas ao database da empresa darão ao
governo a capacidade de monitorar tudo que o estudante busca, envia,
recebe e lê, um pesadelo orwelliano que é o sonho de qualquer
autoritário. O próprio Ayers já disse: “a grande arma da esquerda hoje é
a sua presença em todas as salas de aula”.
O principal grupo de trabalho que elaborou o “Common Core”, como
denunciado por alguns veículos independentes, não tinha nenhum professor
com experiência suficiente em sala de aula, só “intelectuais renomados”
como Ayers, movimentos sociais e sindicalistas. Professores fora do
aparato partidário e sindical eram apenas convidados a enviar
“sugestões”, mas não se tem notícia de que tenham sido aproveitadas. É
como se toda a educação brasileira fosse recriada por Aloízio
Mercadante, a CUT, a Apeoesp e “intelectuais renomados” escolhidos por
eles.
Na prática, o currículo unificado cria, segundo os opositores, uma
redução drástica nos padrões e exigências para os alunos. No ensino de
inglês, por exemplo, o “Common Core” promove a diminuição dos estudos
dos clássicos da literatura em troca de obras mais populares e técnicas,
como preparação para cursos profissionalizantes. Em matemática, o único
professor de fora convidado para o ‘comitê de validação’, James Milgram
de Stanford, se recusou a assinar o documento final dizendo que o novo
currículo atrasaria o ensino para os alunos em pelo menos dois anos, que
o que se ensina para alunos da sexta série, por exemplo, passaria a ser
ministrado na oitava. Se você quiser conhecer mais sobre o “Common
Core” há farto material disponível na internet, mas prepare-se para ter
pesadelos do provável futuro da educação americana e do que ela vai
apontar como tendência para o mundo.
Ainda hoje, quando citado na imprensa, a influência de Bill Ayres nas
políticas educacionais do país é justificada por seu notório saber em
educação, suas posições políticas radiciais, seu passado terrorista e
seu antiamericanismo são relevados como arroubos juvenis, mesmo que ele
nunca tenha dado qualquer sinal de arrependimento ou autocrítica. Como
disse o jornalista Timothy Noah, “tratar Ayers apenas como um
especialista em reforma educacional é como tratar Stálin como apenas um
especialista em reforma agrária.”
Indícios de que ele não mudou não faltam, ele no máximo adaptou e
atualizou as táticas revolucionárias. Em 2011, quando começam as
manifestações conhecidas como “Occupy Wall Street”, Ayers participou
ativamente desde a organização dos protestos, alguns financiados pelas
fundações de esquerda apoiadas por ele, até sua presença em reuniões
preliminares e nas próprias manifestações. Numa entrevista à Andrew
Breitbart, ao ser perguntando se a luta política do “The Weather
Underground” tinha acabado junto com o grupo, respondeu: “não acabou,
ele está aí, ele é o Occupy Wall Street”. Ele foi também líder dos
movimentos na sua cidade, o “Occupy Chicago”.
Em 2012, num discurso para manifestantes do Occupy, o ex-terrorista
confessou: “acordo todo dia dizendo para mim mesmo que hoje vou derrubar
o capitalismo, é o que me mantem vivo”. Quem vê tudo o que ele já
conseguiu e o que ainda pode fazer sabe que não é um sonho impossível.
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1. Seja polido;
2. Preze pela ortografia e gramática da sua língua-mãe.