Uma maldade que estamos acostumados
a lidar é com as geralmente desonestas definições dadas pela esquerda
do que seriam os ideais defendidos por todos aqueles que não partilham
das mesmas idéias políticas e filosóficas deles. Como é esforço vão
pedir a cada um desses um pouco mais de informação e sinceridade para
reconhecer os diferentes pontos de vista existentes, cabe a nós sabermos
bem com quem estamos lidando quando ousamos debater e
contra-argumentá-los. E então, o que seria um esquerdista hoje?
A pergunta não é relevante apenas para
quem não se diz esquerdista. Socialistas de diversas partes põem-se a
pensar o que é o papel da esquerda e quais são os desafios dela no mundo
de hoje. Embora não admitam, isso se faz necessário após um século
inteiro de experiências fracassadas, previsões catastróficas jogadas no
lixo e erros que, para sorte da humanidade, foram superados por ideais
mais justos economicamente, em termos práticos e morais.
De
forma resumida, o ideário de esquerda começou a ser desenhado em bases
teóricas como uma análise crítica do capitalismo, e segue desde sempre
tendo-o como inimigo. Nos termo de T.J. Clark, influente pensador
marxista da atualidade, ainda hoje “Por “esquerda”, entendo uma oposição radical ao capitalismo”
.O que a História nos mostrou é que todas as alternativas ao
“Capitalismo” são desastrosas e ofensivas às liberdades que hoje a
esquerda diz defender. Mas chegarei a esse ponto mais adiante. Importa
aqui dizer que mesmo com tantos erros e catástrofes provocados, a
esquerda mundial não percebeu que capitalismo é o que acontece quando o
Estado não é totalitário ao ponto de ditar os meios econômicos que as
pessoas devem dispor. O capitalismo não é uma ideologia, um saber
filosófico planejado em laboratórios e posto em prática aos poucos até
se tornar predominante: é pelo contrário um sistema nascido e
fortalecido pelas infinitas possibilidades naturais que cada ser humano
busca para acumular as riquezas. O acúmulo de bens por um “possessive
individualism”, como dito por Paul Johnson, é a base do capitalismo que
leva a um termo muito comum hoje para definir e criticar a esquerda: o
seu “coletivismo”, que age em oposição e enfraquecendo o “indivíduo”.
Um dos problemas históricos dessa
crítica ao capitalismo é o enorme superficialismo ou mesmo
desconhecimento de como se dão as trocas comerciais, as negociações e
transações no mundo conforme as práticas capitalistas evoluem e
expandem-se. Analisando as crises financeiras e quebras de bancos, veja
como um pensador brasileiro desconhece por completo um termo central em
sua afirmação e defende que plebiscitos devem decidir operações como
empréstimos estatais para entidades financeiras:
Um Estado não pode emprestar bilhões para massa financeira falida sem uma manifestação direta daqueles que pagarão a conta
Oras,
empréstimo, como o nome já diz (diria Chauí explicando preconceito), é
algo que deverá ser devolvido por aquele tomador. Se isso não será pago
por quem o tomou, então não se está falando de empréstimo, mas
transferência de bens, pura e simplesmente. Transferência de recursos
como por exemplo o pagamento absurdo para um filósofo trabalhar 15 minutos por mês ou tudo o que é jogado em organizações não-governamentais, artistas amigos do sistema…
Abandonada a luta no campo econômico
após o fiasco inegável de todos os Estados comunistas, a esquerda parte
então para a crítica por outros caminhos. Como derrotada e humilhada,
ainda que insistindo em negar e ocultar a montanha de corpos vitimados,
restou escolher como alvo os objetos de seu ressentimento. Dentre eles,
os Estados Unidos, símbolo maior do triunfo da democracia liberal. Um
dos grandes pensadores da esquerda brasileira, o mesmo que sugere
plebiscitos para questões do Tesouro Nacional acima, tão logo ocorreram
os atentados terroristas do 11 de setembro escreveu sem pudor:
Verdade seja dita: a terça-feira negra mostrou como a ação política mais adequada para a nossa época é o terrorismo.
O ódio aos Estados Unidos não encontra
limites. Mesmo gente que, supostamente, importa-se com direitos humanos,
direitos civis, causas feministas e gays encontra coragem para, diante
duma visita de sabido inimigo de tudo isso, bradar:
Bem vindo, Ahmadinejad.
Fora desses absurdos extremos, há ainda
os que advogam um novo esquerdismo nascido de um Golpe Militar
fracassado e depois perdoado na Venezuela. São os apologistas de Hugo
Chávez, bucha de canhão de todas as piores teorias gestadas numa
organização de Partidos de Esquerda da América Latina (O Foro de São
Paulo) que jamais se envergonhou de ter, em suas fileiras,
representantes de organizações criminosas. Para esses, e para boa parte
da esquerda contemporânea, o novo ideário socialista inverte a
importância da substância econômica e filosófica, enfatizando então algo
abstrato que poderia simplesmente ser resumido em “fazer o Bem”. Por
outro lado, abdica-se momentaneamente do internacionalismo para
investir, em cada país, na construção de um nacionalismo inspirado nas
raças e povos originários dos países. Michael Lebowitz é um desses
pensadores de primeiro mundo com taras terceiro-mundistas diante do
regime chavista. Sobre seu recente livro “Build it now: socialism for
the twenty-first century”, comentou de forma elogiosa um fã:
“Build It Now helps us transcend the impasse created by the implosion of statist socialism. It provides a new vision of the collective worker ‘as human beings with needs rather than as competitors.’”
O próprio Michael Lebowitz, em artigo, expressou o ideal dessa esquerda. Vejam o que diz referindo-se a esse novo socialismo:
I suggest that it is a society in which the explicit goal is not the growth of capital or of the material means of production but, rather, human development itself—the growth of human capacities
Após todos os fiascos na construção
artificial de uma nova sociedade e um novo homem, restou então esse
discurso puramente emotivo, a dizer que tudo o que a esquerda quer é
fazer o Bem, que tudo o que está fora da esquerda é por definição o Mal.
Uma Religião, uma péssima religião! Compreender isso ajuda a perceber a
disposição esquerdista em abraçar causas tidas hoje como modernas: O
casamento gay, luta contra o racismo e o feminismo. Historicamente
todos esses temas foram atropelados em países socialistas. Há um
mea-culpa, reconhecimento da História nefasta deles diante dessas
causas? Oras, quem não se vê obrigado a pedir desculpas por mais de 100
milhões de pessoas vitimadas, em sua maioria, pelo próprio Governo em
períodos de paz, por quê pediria desculpas por “alguns” desses mortos?
Dito tudo isso, é claro que eu devo aqui
deixar aberto um espaço para reconhecer qualquer injustiça que eu possa
ter cometido nesse texto e nessas definições. Caso eu esteja errado, ou
me tenha escapado alguma motivação ou verdadeira aspiração da esquerda,
estarei pronto para reconhecer. Não é um grande gesto mas eu prefiro
não chegar nem próximo de ser confundido com esse pessoal que ainda tem
coragem de se dizer socialista.
P.S.: Conheçam mais sobre o Memorial às Vítimas do Comunismo em http://www.visitar-praga.com.pt/guia/017-monumento-vitimas-do-comunismo.html
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