Por G1,
Após manifestação que
interrompeu o primeiro debate da Flica (Festa Literária Internacional
de Cachoeira) neste sábado (26), quarto dia do evento, a organização
resolveu cancelar duas das mesas. O protesto aconteceu após 15 minutos
do início de “Donos da Terra? – Os Neoíndios, Velhos Bons Selvagens” e,
segundo os manifestantes, contra a presença de um dos convidados, o
sociólogo, colunista e professor da Universidade de São Paulo (USP),
Demétrio Magnoli.
A mesa "As Imposições do Amor ao Indivíduo”, em que estariam
Jean-Claude Kaufmann e Luiz Felipe Pondé, e estava marcada para as 20h,
também não vai mais acontecer. “Foram canceladas porque a organização
não conseguiria garantir a integridade física dos dois autores [Luiz
Felipe Pondé e Demétrio Magnoli]”, diz um dos organizadores, Emanuel
Mirdad.
Protesto
Um grupo formado por cerca de 30 pessoas invadiu o saguão do Convendo do Carmo logo no início da primeira mesa. A escritora Maria Hilda Baqueiro Paraíso pediu diálogo, o que foi negado pelos manifestantes. Pessoas se pintaram de rosa e alguns ficaram seminus.
Um grupo formado por cerca de 30 pessoas invadiu o saguão do Convendo do Carmo logo no início da primeira mesa. A escritora Maria Hilda Baqueiro Paraíso pediu diálogo, o que foi negado pelos manifestantes. Pessoas se pintaram de rosa e alguns ficaram seminus.
Os manifestantes afirmaram repudiar a posição crítica do participante
da mesa ao sistema de cotas para ingresso nas universidades, chamando-o
de racista. A mesa seria retomada às 13h, segundo o curador do evento,
Aurélio Schommer, e depois foi cancelada.
'Vandalismo'
Demétrio Magnoli conversou com o G1. O escritor, cuja obra mais recente é "O Mundo em Desordem - Liberdade versus Igualdade (1914 - 1945)", criticou o fato da manifestação interromper o debate. "O grupinho que fez a baderna, que impediu o debate, eles imaginam que estão impedindo a minha liberdade de expressão, mas estão enganados, porque a minha liberdade de expressão está garantida. O que eles cerceiam é o direito das pessoas de ouvirem um debate, então eles estão contra as pessoas comuns, que vão ouvir um debate. Não estão contra o palestrante, embora eles imaginem que estejam", afirmou.
Na opinião do sociólogo, como não houve diálogo, não há crítica, mas
sim vandalismo. "A crítica envolve a articulação de sentenças com
começo, meio e fim, com o uso de sentenças subordinadas e principais,
isso é o campo da crítica. O vandalismo não deve ser confundido com a
crítica, assim como a manifestação não deve ser confundida com a
depredação. Eles são vândalos e depredadores do direito das pessoas
debaterem, eles não são críticos". Ainda em conversa, Magnoli fala sobre
a sua opinião em relação às cotas.
"A minha posição sobre as cotas é porque, justamente como sou um
anti-racista convicto, eu sou contra que estados classifiquem as pessoas
na lei segundo critérios de raça. Os estados que classificaram as
pessoas na lei segundo critérios de raça produziram desastres horríveis,
como a África do Sul com o Apartheid, como os Estados Unidos, que no
início do século XX criaram leis de segregação racial. Essas leis se
baseiam no mesmo critério, que as pessoas são aquilo que a aparência
delas diz que elas são. Os anti-racistas acreditam que as pessoas são
aquilo que querem ser, que as pessoas são aquilo que pensam, que criam,
aquilo que inventam, não são alguma coisa definida pela sua aparência,
pela sua cor da pele, qualquer coisa assim. É justamente porque eu sou
anti-racista que eu sou contra as cotas raciais", diz.
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