Por Folha de São Paulo,
No final da década de 1980, um conhecido economista europeu me fez uma
pergunta interessante: por que os brasileiros estão sempre querendo
reinventar a roda na economia?
Analisando não só as políticas econômicas brasileiras e seus resultados,
mas também as reações a elas, conclui que ele tinha razão. Há, de fato,
uma visão muito difundida de que governo progressista deve adotar
políticas originais e não testadas.
O resultado dessa criatividade é negativo. Os períodos de melhores
resultados macroeconômicos do país ocorreram quando foram aplicadas
políticas já testadas e analisadas em diversos países, com eficácia
comprovada
Numa analogia médica, seria como se os médicos brasileiros, para serem
bons profissionais, tivessem de refutar tratamentos testados e aprovados
na maioria dos países e devessem sempre inventar fórmulas "geniais".
Seria muito arriscado para nós, pacientes.
Na economia não é diferente. Políticas econômicas como equilíbrio
fiscal, meta de inflação e câmbio flutuante têm eficácia comprovada em
diversos países, com estudos acadêmicos analisando resultados em casos
suficientes para ter relevância estatística.
Mas esse contexto é estranho a muitos analistas brasileiros devido à politização do debate econômico.
Quando aplicamos, logo no início, um conjunto de políticas testadas e
analisadas em diversos países, como sistema de metas de inflação, câmbio
flutuante e superavit primário capaz de assegurar trajetória cadente da
dívida pública, fiquei surpreso com análises e críticas de que
estávamos "imitando" o governo anterior, como se todas essas políticas
tivessem sido "inventadas" na outra gestão.
Na realidade, fomos um dos últimos países relevantes a adotar, em 1999, o
regime de metas de inflação, criado no final dos anos 1980 na Nova
Zelândia. Tampouco fomos pioneiros na parte fiscal ou cambial, e não há
nenhum demérito nisto.
Política economicamente bem-sucedida é a que faz diagnóstico correto da
situação e toma medidas suficientemente fortes para resolver os
problemas. Em nossa administração, sempre mantivemos foco nos
resultados, não no politicamente correto.
Em resumo, é importante que não só aprendamos com nossos erros e
acertos, mas que analisemos e aprendamos com a experiência
internacional. Políticas bem-sucedidas são resultado de várias
experiências internacionais, não são propriedade de nenhum governo ou
país.
Políticas econômicas criativas e inovadoras, mas que fracassam, devem
ser corrigidas. A experiência histórica mostra que o melhor caminho é
adotar políticas que deram certo em grande número de países, inclusive
no Brasil.
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