Vocês bem sabem do meu desprezo por toda sorte de relativismos. Bem sobre aquele discurso bonito de certos iluminados, dizendo que "não há discurso neutro" (inclusive o discurso do discursador). Em suma: a verdade não existe. É relativa. Menos na hora de criar uma comissão para condenar a priori os militares, nessas horas até verdade histórica existe. A neutralidade não existe, menos na hora de afirmar a ilusão de que o governo controlará todas as informações que circulam na internet, garantindo-lhes circulação "democrática" e "neutra".
Ou como apontou o camarada Octávio Henrique hoje, expondo a contradição nos termos utilizados:
Pergunta: Se, para a esquerda, baseada nas ideias de Barthes, Althusser, Foucault et caterva, todo signo é ideológico e, portanto, a neutralidade é impossível, então como acreditam em neutralidade como um valor essencial para a Internet?
O professor Rodrigo Mezzomo matou a charada e colocou os pingos nos is em entrevista a Record News. O Marco Civil não passa de uma comunização da rede, de um "socialismo cibernético". Não passa de uma intervenção estatólatra numa das poucas coisas que ainda funcionam (justamente por ser desregularizada), a internet:
A internet deveria continuar como é agora e melhorando. Quando despido do vocabulário pomposo e vazio, as verdadeiras intenções da nomenklatura por trás do Marco ("entram no blog do Reinaldo Azevedo e 'pum'" - a partir de 20'08''):
Preparem-se amigos, é o princípio do fim.
Olha, de fato o Marco Civil é uma droga, não deveria ser aprovado, e não precisamos de mais regulação do que já existe (há as diretrizes do Comitê Gestor e as portarias da Anatel - uma inclusive sobre a neutralidade da rede).
ResponderExcluirMas esse cara na Record aí confundiu Jesus com Genésio na hora de definir o que "neutralidade na rede" na Internet. Do inglês "Net neutrality", ela NÃO significa que "todo bit deve ser tratado igual", e sim que os provedores não podem limitar o tráfego de determinados serviços fornecidos via Internet - por exemplo, a Vivo não pode limitar o tráfego do Netflix na sua casa porque você o assiste mais do que navega pelo UOL, por exemplo.
Daí tem o pessoal que acha que a liberdade de mercado deve prevalecer e se as operadoras quiserem fazer pacotes que cobram mais de quem usa o Netflix para cobrar menos de quem só lê email, tudo bem. Esse ponto é compreensível. Mas em termos de interferência e censura, vocês precisam entender que o risco maior é NÃO ter net neutrality.
Vejam: hoje, com a neutralidade da rede estabelecida pela Anatel, se a Oi - beneficiada por negociata avalizada pelo PT, na compra pela Portugal Telecom - resolver limitar o acesso de seus assinantes à Radio Vox, para agradar seus padrinhos no governo, ela pode ser processada com base na neutralidade. Com a queda da neutralidade, ela poderia alegar que o tráfego da Radio Vox - por ser streaming - é muito maior do que acessar uma página estática de um blog progressista ou de uma Folha e, assim, cobrar mais de quem quiser acessar a Radio Vox. Basta o governo "cooptar" uma empresa com esses auxílios de BNDES para estrangular mídia que não lhe interesse.
O Marco Civil é sim uma ameaça, e o governo quer sim censurar, mas não é através da Net Neutrality. Tanto que em um primeiro momento toparam tirar a cláusula se fosse necessário para aprovar o Marco Civil. Acabou não precisando. As brechas que eles vão usar são outros artigos do Marco Civil, especialmente os que falam em "uso social da Internet" e "o governo pode requerer informações dos usuários quando necessário conforme a lei". HOJE a lei não permite, mas eles estão contando com a reeleição de Dilma e maior participação direta no Congresso (mais representantes de esquerda e menos PMDB). Aí eles mexem onde for preciso para começar o Estado policial.
A Net Neutrality só foi defendida por eles porque a queda dela estrangula os provedores, deixando-os à mercê do governo, e porque sem ela, a estratégia acima de "cooptar" uma empresa para limitar acesso a determinado conteúdo poderia ser usada contra o próprio governo.
A única coisa que prestou (em parte) nesse Marco Civil foi justamente a net neutrality. Seria melhor que continuasse só como portaria da Anatel, com possibilidade de ser contestada de acordo com a necessidade, sem o governo se metendo mais ainda. Mas está longe de ser o real problema dessa bodega.
Não sei pq as edições que fiz não "passaram". :/
ExcluirCorreções importantes:
"Basta o governo "cooptar" uma empresa com esses auxílios de BNDES para estrangular CONTEÚDO que O INCOMODE."
"A Net Neutrality só foi defendida por eles porque MANTÊ-LA estrangula os provedores, deixando-os à mercê DAS BENESSES do governo"